sábado, 28 de novembro de 2009
A guerra com Rose
O pequeno comércio da minha rua “ no Raul Veiga” é totalmente pitoresco.
O meu quarteirão é quase um centro comercial. Possui duas padarias, uma locadora de vídeo , uma fábrica de freezer e balcões frios , uma quitanda e os dois mais frequentados e famosos estabelecimentos: O HORTIFRUTI DA LÉA e o SALÃO VITÓRIA.
O primeiro a ser inaugurado foi o mercadinho da Léa, mulher guerreira que antes de abrir seu comércio as sete da manhã, já havia passado no CEASA por volta das cinco da matina para garantir suas frutas, legumes e hortaliças vistosas . Ela dirigia o carro da família, a família e os negócios.
Léa também é habilidosa e prendada, costura bem, expõe e comercializa suas obras de forma a aproveitar o máximo o espaço.
Para as donas de casa do local foi uma alegria , uma mão na roda ali ao nosso alcance, já que na maioria das vezes precisávamos nos deslocar para o centro de Alcântara , apenas para comprar uma salsa ou uma lata de leite condensado para finalizar uma receita.
Foi uma euforia! O mercadinho foi um sucesso, dona Léa investia cada vez mais em novidades,mas como todo bom pequeno negócio, começaram os problemas. Um deles era o seguinte, o que ela tinha de disposição seu marido aposentado tinha de lerdeza e este fato a enlouquecia e fazia com que reclamasse para todos que lá compravam.
- Este homem é muito lento, estou entrando em depressão , estou gorda, estou cansada...
Lamentava diariamente e seu mal humor descambava automaticamente para os fregueses.
Para piorar a situação , seu estabelecimento sofreu dois assaltos seguidos e aí babou de vez!!!!
Ela falava em fechar o negócio, queria matar o marido que agora era lento e frouxo, os filhos abandonaram, os prejuízos eram enormes e tudo estava indo por água abaixo, até que seu espírito empreendedor teve a seguinte idéia:
- Vou dividir a loja e alugar a metade para alguém, pois assim ganho um dinheiro e de lambuja um vizinho para me acompanhar .
Léa passou a articular sua idéia e pôs o marido parar tratar da obra e procurar um advogado para fazer um contrato. - Não quero aborrecimentos! - Gritava .
Apareceu o primeiro inquilino, ou melhor, inquilina , a Rose.
Rose é uma mulata sarada, charmosa e cabeleireira. Trabalhou anos em um salão de belezas e juntou uma grana para montar o próprio negócio. Dona Léa empolgada com a possibilidade de refazer suas economias, ganhar uma amiga , aumentar o movimento na sua calçada e de quebra se embelezar, era só alegria!
Mais uma vez , nós moradoras ficamos na maior felicidade, um salão de belezas na rua, que maravilha !!!!
A inauguração teve coquetel com direito a limpeza de pele e hidratação grátis , finalmente o progresso chegava “no Raul Veiga” !!!
Rose, uma simpatia! Muito bem cuidada , um corpinho show , tirava onda contando vantagens sobre suas maravilhas estéticas com a clara intenção de vender seu peixe , no entanto dona Léa já começava naquele instante, olhar Rose meio que de lado , estudando o terreno. Fixada no corpucho da mulata, sua face expressava toda a desconfiança e duvida sobre o negócio que havia feito.
Rose desinibida que só , andava de um lado para o outro , dando beijinhos, pulinhos, gritinhos, todos eram “amor” , “querido”, “lindos” e “lindas”.
Com um tempo Rose ficou mais ousada , danou a elogiar os maridos da vizinhança.
- Com todo respeito, mas seu Onofre é bonitão !!!
- Dona Marilza , com todo respeito , seu marido e um tipão !!!
Pronto, foi o suficiente para aguçar a ira e o ciúme de Léa. Depois de um ano a dona do pedaço ficava de prontidão na porta do mercadinho abordando os clientes do salão.
- Quer fazer unha? Olha a minha mão, fiz com uma menina que vai à minha casa. Quer o telefone ? Você sabe ... Essa aí ao lado é preguiçosa, veja só , uma hora destas e o salão fechado. E tem mais!!! Ela fala mal dos fregueses depois que dão as costas.
Claro que logo, logo a maledicência caia nos ouvidos de Rose o que provocou uma guerra acirrada entre as duas.
Em um determinado dia, entrei no mercadinho em busca de verduras para fazer uma sopa.
- Léa, tem couve ou espinafre?
- Tem sim, mas antes vem aqui. Quero te mostrar uma coisa.
Levou-me para o canto da mercearia e neste instante observei que o “lento” correu para o canto oposto e deu a arrumar os tomates.
- Olha o que estou vendendo !
Disse isto e com um olhar de lascívia jogou em cima do balcão vários apetrechos de sex shop .
- Veja esta bolinha Monica, você introduz lá no fundinho e na hora que seu marido te penetrar ela explode !!!
Fiquei perplexa! O que teria levado a senhora rechonchudinha e batalhadora a atitudes libidinosas de uma hora para outra .
Pensei, de duas uma, ou a Léa se sentiu insegura com a sensualidade da vizinha, despertando o libido enrustido a anos e não queria ficar por baixo ou realmente o instinto empreendedor dela havia extrapolado.
Definitivamente “no Raul Veiga” não tem público para tais brinquedinhos.
Respondi: - Léa , se eu souber que tem alguma coisa dentro de mim que poderá estourar a qualquer momento , não vou me sentir a vontade (tentando ser natural).
- Que isso garota ! E este óleo conhece ???? Você passa no seu marido e lambe com força , assim o “negócio” dele aquece e o “bicho” fica doido. !!!
Caramba ! Ela tinha enlouquecido !!! neste momento lembrei do marido lento dela que enfiava a cara dentro dos tomates e tentei imaginar a performance sexual dos dois.
- Obrigada Leinha, mas realmente quero levar só o espinafre e um coentro se tiver.
A disputa entre as duas ficou acirrada em todos os sentidos. Uma falava mal da outra , vendiam as mesmas coisas, atrapalhavam os negócios e foi por aí até o momento em que Léa tomou uma decisão. Pediu a loja de volta e Rose para afrontá-la alugou outra duas vezes maior que a antiga e na mesma rua. Inaugurou um salão mais bonito , mais bem equipado com paredes externas pintadas de um rosa reluzente que se via a dois quilômetros.
Léa apor sua vez ampliou novamente seu mercado e pintou sua fachada de verde fosforescente.
Bom , nós fregueses saímos ganhando de qualquer forma .
Da próxima vez , Léa deverá alugar o comércio para um borracheiro .
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